sexta-feira, 8 de maio de 2009

A festa na casa do compadre

Pessoal, coisa ótima, esse blog! Aí vai a minha primeira contruibuição, acreditem ou não, fato verídico no interior mineiro:

A manhã já ia alta, na estrada de terra.
Marinho arreou o cavalo e botou roupa arrumada.
Saiu de galope, chicotada no lombo do bicho, que zuniu estrada afora, rumo à cidade.
Passou por um carro apressado, que levantava pó.
Depois que a poeira baixou, pôde enxergar claro, o céu azul dos tempos de seca, o capim amarelado de sol, tudo esturricado, e o silêncio ocupando tudo.
De vez em quando ouvia o pio da siriema, como um lamento, melodiando longe, no pasto.
O cavalo agora pisava macio, passo compassado, marchador: - Vale um troco, esse danado!
Marinho ia abrindo e fechando as porteiras, isso era de lei.
Quando passava por outro cavaleiro, levantava o chapéu, e o cumprimento vinha respeitoso: - Sim sinhô! E a resposta: - Sim sinhô, sim!
De um casebre na beira da estrada saíram dois cachorros, latindo e correndo atrás do cavalo, mostrando serviço ao dono: - Cachorrada sarnenta, que mania besta, sô!
Meio caminho andado, Marinho apertou os olhos para enxergar longe: parecia um punhado de gente no terreiro em frente à casa do compadre.
O cavalo foi chegando perto e confirmando a pequena multidão. Era tanta gente que não cabia na casa, e quem sobrava se espalhava pelo terreiro, debaixo do sol, que nenhuma nuvem atenuava. Crianças corriam entre os carros estacionados no pátio.
- Um festão! Pensou. - E eu de fora!
Homem enorme que era, Marinho foi chegando e se fazendo anunciar pelo vozeirão. De forma a ser ouvido de dentro da casa, berrou de cima do cavalo, antes mesmo de apear:
- Êta farra boa, o povo está com os olhos inchados de tanto beber! Está com raiva de mim, compadre? Não vem me receber?
Foi então informado por uma voz que veio, baixinha, do meio do povo: - É enterro, seu moço, o compadre morreu, e os olhos estão inchados, mas é de tanto chorar!
Pego de surpresa, a resposta saiu num susto, automática, de rompante: - Pois então, meus parabéns!
Inclinou o braço para o lado, levando a rédea, e atrás dela o cavalo.
Sumiu depressa na curva fechada, onde ninguém mais o poderia ver.
A não ser o sol, que já estava quase a pino na estrada de terra.

Angela Nabuco

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